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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A pensar que penso só porque penso que penso








Por vezes fico parado
a pensar

A pensar que penso
só por pensar que penso

Alheado por fora
fascinado por dentro

Sem me aperceber
sequer
do vento
que por dentro
me perpassa
vazio de sentimento
nem quente
nem frio

A olhar o vazio
sem graça
sem me deixar adormecer
a pensar que penso
só porque penso que penso

Fora de mim nada me diz
dentro de mim nada me digo
o coração nada sente
sem penas nem dilemas em minha mente

Entremente
rumino apenas poesia
regurgito poemas
somente

 A pensar que penso
simplesmente
só porque penso que penso




domingo, 17 de dezembro de 2017

Presépio…


   
   

Projecto épico do Menino Jesus
nascido de Deus envolto em luz
no ventre da Virgem Mãe
advento de um novo tempo
marco indelével da História

Chama de amor e de paz
brilha na escuridão da guerra
que oprime toda a Terra
e traz a Humanidade refém
no engano da fugaz fama

É Cristo que para nossa salvação
triunfa em cada Natal
sobre a dor e o sobre mal
e nos redime em cada ano
rumo à celestial vitória

   Henrique Pedro

B O A S  F E S T A S


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Nem sei se ainda por cá ando ou se já me fui embora







Esta melencolia que me assola
em dias de chuva aborridos
ou quando o sol poente
me deixa lânguido da saudade
de quem anda ausente
estando embora presente
é uma tristeza deliquescente
mais própria dos vencidos

Abandono-me à nostalgia emergente
e paro de me angustiar
viro as costas às perguntas do costume
que sei
de antemão
não terem respostas

É quando uma morrinha miudinha
me toma os sentidos
a ponto de não me sentir nada
nem ninguém
nem magma
nem matéria
em nada materializado 
em nenhum estado de espírito realizado
ocaso ou aurora

Fico sem saber se ainda por cá ando
ou se já me fui embora
se a poesia é coisa séria
ou não passa de uma pilhéria

Até que o ensejo de um bocejo
me faz despertar dessa sonolência demente
e retomar a vida corrente



terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O amor em redondilha maior e em decassílabo




(Heptassílabo ou redondilha maior)

É-nos dado, sim, saber
E sentir que o amor
É o oposto da dor
Vital no nosso viver

Seria bom, não sofrer
Sentir só d` amor calor
Sem haver dor ao redor
Viver só puro prazer

Não sabermos bem amar
Nem sabermos bem-fazer
É o amor aviltar

No sentir do sentimento
Ninguém se pode enganar
É puro conhecimento


(Decassílabo)

A todos nós nos é dado saber
E sentir aquilo que é amor
Porque é o contrário da dor
E parte vital do nosso viver

Melhor seria, sim, ninguém sofrer
Sempre sentir, do amor, o calor
Sem que houvera dor ao seu redor
Viver apenas de puro prazer

Muito poucos, porém, sabem amar
E só porque não sabem bem-fazer
Acabam por o amor aviltar

Sofrer na pele e ter sentimento
É, sem ninguém se poder enganar
A melhor fonte de conhecimento



domingo, 10 de dezembro de 2017

Fado do mal amado





(Do meu baú de recordações) 
Nunca houve outro amor assim
Uma tão cruel paixão entontece
Entrega tão pura ninguém merece
Nem se a mulher for um querubim

Agora choro lágrimas sem fim
Meu pranto ao longe se esmorece
Como uma mal sucedida prece
Que amargamente se vai de mim

A fada cruel quebrou o encanto
Para sempre seu coração calou
Esta é a razão deste meu pranto

Mas a vil paixão de mim não voou
Por isso canto este triste canto
O fado amargo que me tocou

Chaves, 8 de Março de 1966




quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Fogo-de-artifício nuclear



Andam agora os homens a forrar o céu
com aviões
satélites
luzes de néon
rastos de luz e de fumo

Presumo que pretendem tapar o Sol com uma peneira
apagar as estrelas
soprar as nuvens
e aprisionar cometas

Já os políticos histriónicos
se julgam donos do Sistema Solar
como se  as estrelas estevessem ali
à sua mão de semear

Queira Deus que tudo não termine num sopro de ferro incandesce
num monumental fogo-de-artifício nuclear
tendo como música de fundo um acordeão atómico
coro de demónios a bailar


Oh, tanta mente demente!

Que sacrifícios agónicos iremos nós penar?


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

De barro e poesia



Com barro bruto o Criador criou o homem
Insuflando-o com a divina poesia
Para Sua simples recreação e alegria
E sem as dores que ora aos mortais consomem

Porém, tais graças com a poesia eclodem
Que barro vil, por Deus soprado, ganhou vida
Animou Adão e fez Eva apetecida
Dos maiores deleites que na Terra ocorrem

Ao barro, porém, nosso corpo retornará
Finando-se dores e prazeres com a morte
Só a mais pura poesia se salvará

Assim livre da matéria e da má sorte
O homem, com poesia, a Deus louvará
E amará, como Deus quer, Eva, a consorte


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Terra Mater




Enlevam-se o meu olhar e o meu coração
Neste doce mar de oliveiras prateadas
Meu bendito berço de mil colinas encantadas
Toma-se o meu ser da mais santa comoção.

Bandos de aves livres voam em livre formação
Pela branda brisa do cair da tarde embaladas
São pela nossa Mãe Natureza abençoadas
Dão asas e graça à sua natural paixão

Terra sem igual sagrada pela oliveira
Aspergida por espiritual quietude
É ganha-pão de gente simples, pura e ordeira

Que nos úberes vales de rio e ribeira
Cultiva sua grata agrária virtude
Assim haja paz igual na Terra inteira


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Quando a minha alma em mim anda perdida



Estou só

Na casa vazia
televisão acesa sem som
silêncio denso
constrangedor

Um cálice de vinho do Porto
semivazio
sobre a mesa

Meio morto
bebo
e encho de novo o cálice da ansiedade

Mergulho
absorto
mais e mais
na mais amarga solidão
amálgama de filosofia, poesia e ansiedade

Descubro
com emoção
que existo
e que a minha alma em mim anda perdida

Não sei que lugar ocupo na humanidade

Mas eis que o telefone toca!

É quem me ama que me chama!

Emerjo na piscina da alegria
qual campeão olímpico
ovacionado pela multidão
em mil imagens de caleidoscópio

Agradeço os aplausos

Aplaudo-me a mim próprio




sábado, 18 de novembro de 2017

A poesia de amor não passa de uma farsa




A poesia de amor não passa de uma farsa
de uma momice
de uma doce aldrabice

De uma mistificação
rimada
declamada
cantada
decantada
nem sempre bem intencionada

De um fingimento de sentimento
de uma falha da razão

De um chorrilho de fantasias
falsidades
meias verdades
falsas alegrias
piruetas e caretas
esgares próprios da paixão

A poesia de amor não passa de uma farsa
com que o poeta
com versos perversos se disfarça

A poesia de amor é um paradoxo
uma desgraça
um meio pouco ortodoxo
de redenção



terça-feira, 14 de novembro de 2017

No reverso do universo




Nada do que sonho
ou imagino
existe em lado nenhum

Dentro de mim há miríades de outras entidades
ideias
sonhos
fantasias
angústias
irrealidades
que eu não consigo expressar em nenhum dos poemas que escrevo
porque não existem na Terra
no umbigo do Sistema Solar
o mundo de verdade

Eu vivo no reverso do universo

É esta a raiz da minha crónica ansiedade


domingo, 12 de novembro de 2017

Colhendo poemas directamente das árvores





O benefício maior de se viver no campo
é podermos ir ao pomar
colher poemas directamente das árvores
sempre que nos apetecer

Quando não são as aves que no-los trazem
adejando à nossa volta
e chilreando melodias

Ou o Sol
ou a lua
ou as estrelas
que com os seus raios de luz escrevem eles próprios
os versos
na nossa alma

enquanto nós nos limitamos
a ler
deslumbrados

E quando pela manhã abrimos a janela
e descobrimos que não temos nenhum sítio para aonde ir
nada mais que fazer
atiramos um punhado de milho aos pardais
e pomo-nos a escrever




sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Palavras tresmalhadas pelo vento





Regurgito golfadas de poemas
desejosos do supremo sacrifício da poesia
apunhalado que foi o meu coração

Tomo um punhado e atiro-os ao ar
deixando que seja o vento
a tresmalhá-los em palavras

Raras
sobem como estrelas
no céu
cintilando
noite adentro

Poucas
são levadas pelos aves
delicadamente nos bicos
para construir os ninhos
e alimentar as crias

Outras
são arrastadas pelos rios
para o mar
terminam nas redes dos pescadores
ou diluídas no seio da tempestade

A maior parte
porém
são estraçalhadas
pelas mandíbulas ferozes dos políticos

Até que nas minhas mãos vazias
apenas resta aflição




terça-feira, 31 de outubro de 2017

Quando a alma nos cai aos pés





Alguém como eu condenado às galés
e que seguia à minha frente
por um caminho empedrado
inadvertidamente
deixou cair a alma
aos pés

Tilintou
saltitou
e acabou por se ocultar
sem se partir
como se fora um berlinde de cristal
incandescente

Em redor não se via vivalma
e não adveio daí
outro mal
ao mundo

Alguém que seguia a meu lado
por um caminho relvado
deliberadamente
deixou cair o coração
soltando-o da mão

Ouviu-se um baque surdo
e ali ficou plasmado
como se fora um pastel ensanguentado
vivo
a latejar

Alguém que vinha atrás de mim
por um caminho enlameado
irreflectidamente deixou cair o cérebro
no chão
por erro de lógica
sem razão

Fez plof!
Ainda esbracejou
como se ensaiasse nadar
mas acabou por se afundar
e ali ficar atolado
com a consciência à tona
por algum tempo
como se fosse uma azeitona
enquanto a memória
diluída no vento
apodrecia na História

O primeiro Alguém iluminou-se
sem combustão

O segundo apaixonou-se
ardeu
sem compaixão

O terceiro enlouqueceu
ninguém lhe valeu
restaram os ossos

Eu segui em frente
por entre, cacos e destroços
à procura do meu berlinde irisado
que andará por aí
perdido em qualquer lado
a cair sem se partir

Quando a alma nos cai aos pés
partimo-nos todos
espalhamo-nos
cada bocado para seu lado

Só nos levantamos por inteiro
se recuperamos a alma
primeiro
mesmo se perdemos a razão
e o coração



sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Lenda de Santa Comba e São Leonardo


Neste mesmo local em que ora me assento
donde diviso todo o vale
perpassado pelo vento da recordação

Vivo com emoção o trágico momento
tempo da História já fora da memória
com o coração a bater
a querer saltar do peito
sem jeito de se conter

Sinto a terra a arfar
a pulsar com a dor do pastor Leonardo
morto ainda criança
trespassado pela lança do mouro javardo
que acaba de o esventrar

E ouço os soluços de sua irmã Comba
de bruços a chorar
naquela funesta manhã

O cavalo alfaraz a relinchar
com os cascos a bater
qual tenaz
na fraga que se abriu
para esconder a Comba cristã

Fraga que ainda guarda
a ferradura gravada
a quente
jura muito crente que bem viu

Imagino agora eu a casta adolescente
a voar
Comba feita pomba
a subir ao Céu

Para virar santa
venerada
moira encantada
que encanta o povo que a canta
por toda a Terra Quente

Henrique António Pedro

in Anamnesis (Janeiro de 2016)



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Estarei no messenger, mais logo, para lhe falar



Aqui
O vento que se levantou ao fim do dia
Já veio tarde
Mas deu para limpar o céu
Das negras nuvens do fumo dos incêndios florestais

Ademais
O Firmamento está agora límpido
Cerúleo
Cristalino

Dá para ver na perfeição a Via Láctea
Que se distende na direcção Norte-Sul
E se me enrodilha na Razão
Salpicada de estrelas bruxuleantes
Rangendo de silêncio

Imagino que aí
Do lugar em que te encontras
Duma janela de um vigésimo terceiro andar
Dá para veres
Por certo e na perfeição
O arco da Baía de Guanabara
Em todo o seu esplendor
De som e néon

E ouvir
O bater do seu coração

Fantástica é a poesia
Que nos dá olhos para ver
E ouvir
Com amor e alegria
Coisas tão distintas
E ainda mais
O indistinto que certas coisas têm

E que diferença faz a pesada espiritualidade
Da minha vista
Da suave sensualidade
Do seu olhar?

Nenhuma

Na minha
Uma mulher nua
Láctea
Toca violino
Ao luar

Na sua
Um homem se despe
Doirado
No mar

Estarei no messenger
Mais logo
Para lhe falar


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Eyjafjallajokull



Lá na distante e fria Islândia
uma mulher frívola e fulva
linda como a Lua
cavalgava nua
montada no cavalo de desejo
à procura de alguém
que lhe desse um beijo

E tão forte era o seu desejo e o seu trotear
que o vulcão Eyjafjallajokull acordou
e de imediato se pôs a ejacular
lava e cinza vulcânica
que obscureceu os céus da Europa oceânica
com véus de ansiedade

Foi quanto bastou
para que os europeus não pudessem respirar
e os aviões deixassem de poder voar
até que vulcão Eyjafjallajokull amainou

A Mãe Natureza manda na Terra de verdade
pare o homem de a provocar