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sábado, 26 de maio de 2018

Afinal as fadas existem









Afinal as fadas existem

 

Esta estória sucedeu já no Inverno passado
mas só agora achei o momento asado
para a contar

Vestia a minha soberana samarra transmontana
e o boné
que uso quando o mau tempo acomete
assim como apareço em fotos difundidas pela net

pelo que não seria difícil alguém me referenciar

Sentado à mesa de um café
a tomar o pequeno-almoço
embora só estando presente até ao pescoço
a minha cabeça não estava ali

tanto que de nada nem me apercebi


De olhar fixo num ponto dentro de mim
embora sem nada ver
dentro e fora

o meu espírito vogava
e pensava
que a vida é um desencanto


Tanta coisa linda
em que acreditamos quando criança
e nos inunda de esperança
que até nos causa espanto
mas que depois concluímos não existirem

e que nos são contadas só para nos iludirem

 

É o Pai Natal
o Menino Jesus
as fadas

as musas
a democracia
o mítico Portugal
as moiras encantadas
as bruxas
e mesmo as palavras esdrúxulas.

Tudo fantasia!

Quanto a bruxas,

Ah!
Sei que continua a haver quem diga
que não acredita
mas que as há,

Há!
Mas isso é outra cantiga

Estava eu nestas tergiversações supra reais

quando senti algo

ou alguém

tocar-me ao de leve
muito suavemente

no ombro

para meu assombro
já que não esperava ninguém

Seria gente?

Uma fada?
Uma bruxa?

Uma musa?
Um pingo de chuva?

Talvez fosse alguma palavra esdrúxula

que com o Acordo Ortográfico andam disparatadas

já que são agora acentuadas

ora de grave ora de circunflexo.

Pensei.

 

Não liguei de imediato

mas ao segundo toque despertei,

perplexo

 

Não era a chuva

uma bruxa

nem uma palavra esdrúxula

que essas não tocam assim

 

Era uma fada verdadeira

de carne osso

perfumada

de cara iluminada

pelo olhar

e que usou o sorriso sedutor

como varinha de condão

para me tocar o coração

 

E me falou

para me dizer

que me adorava ler

mas que achava os poetas pouco fiáveis

porque não sabem guardar segredos

 

Todos os amores e medos

grandezas e fraquezas

que alguém cai na asneira

mesmo se por brincadeira

de com um poeta partilhar

é sabido que vão parar à net

e a todo o Universo

ir-se-ão espalhar

em verso

embora nem sempre se saiba

a quem o poema remete

 

Por isso ela ali me aparecia

para com a sua fantasia

tornar credível

a minha poesia

 

Mas que tinha a certeza

que eu lhe iria dar razão

já no próximo poema

versando este tema

 

Tocou-me o coração

respondeu afirmativamente ao meu convite

de “aparece quando quiseres”

e desapareceu

deixando-me no limite

em alvoroço

 

Afinal as fadas existem

e são de carne e osso

 

Perfumadas

radiosas

amorosas

 

Assim como mulheres!

  

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 10 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro


in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

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